DA SÉRIE: A MÚSICA ARMORIAL — O Segundo CD do Quinteto Armorial — ARALUME (1976)
Neste 2.º CD, o Grupo consolida-se como umas das vozes mais genuínas da sonoridade do Movimento Armorial. Segundo Antônio Madureira — ARALUME vem do latim e significa “Pedra de Luz” (Ara = pedra do altar de sacrifícios /lume=Luz), usada no romance — “A Pedra do Reino”.
O Quinteto Armorial era liderado pelo violonista e compositor Antônio “Zoca” Madureira (viola sertaneja e violão) e contava, na sua formação original, com Antônio Carlos Nóbrega (violino e rabeca), Egíldo Vieira (pífano e flauta), Fernando Barbosa (marimbau) e Edilson Eulálio (violão).
O Movimento Armorial foi arquitetado por Ariano Suassuna, em 1970, na intenção de engendrar manifestações originais e profundamente nordestinas nos mais diversos campos da arte, criando uma obra, a um só tempo, popular e erudita.
CAPA DO DISCO. Gravura “O Triunfo da Virtude Sobre o Demônio“, de Gilvan Samico.
Segue texto de apresentação do grupo escrito por ARIANO SUASSUNA, extraído da contracapa do LP:
Iniciado oficialmente em 1970, o Movimento Armorial interessa-se por Cerâmica, Pintura, Tapeçaria, Gravura, Teatro, Escultura, Romance, Poesia e Música, sendo que estamos a ponto de tentar nossas primeiras experiências no campo do Cinema e no da Arquitetura.
No que se refere à Música, o trabalho do Quinteto Armorial é o que, na minha opinião, temos de mais importante, pois contamos com compositores que já estão dando o que falar, no campo da Música brasileira e erudita, de raízes nacionais e populares. Sem se falar dos nossos dois grandes patronos de nome já firmado — Guerra Peixe e Capiba, aqui presentes neste disco — trata-se de gente como Antonio Carlos Nóbrega de Almeida, Jarbas Maciel, Egildo Vieira, e, sobretudo, esse extraordinário Antônio José Madureira, a meu ver a maior esperança da Música brasileira atual. Assim como Gilvan Samico, partindo das xilogravuras da Literatura de Cordel, criou importância para a Cultura brasileira, o mesmo está fazendo Antônio José Madureira a partir dos cantadores do nosso Romanceiro Nordestino, dos toques de pífano, das violas e rabecas dos Cantadores — toques ásperos, “desafinados“, arcaicos, acerados como gumes de faca-de-ponta.
Foram os compositores armoriais que revalorizaram o pífano, a viola sertaneja, a guitarra ibérica, a rabeca e o marimbau nordestino, estranho e belo instrumento, de som áspero e monocórdio, lembrando - como a rabeca também — os instrumentos hindus ou árabes, estes últimos de presença tão marcante no nordeste, por causa da nossa herança ibérica.
Os músicos do Quinteto Armorial poderiam ter partido em busca de dois caminhos fáceis: limitar-se, por um lado, à boa execução convencional da Música europeia, tradicional ou “de vanguarda“, e procurar, por outro lado, o fácil sucesso popular, tocando, à sua maneira, “baiões“ comerciais. Não o quiseram. Convencidos de que a criação é muito mais importante do que a execução, preferiram a tarefa mais dura, mais ingrata, mais difícil e mais séria: a procura de uma composição nordestina renovadora, de uma Música erudita brasileira de raízes populares, de um som brasileiro, criado para um conjunto de câmera, apto a tocar a Música europeia, é claro - principalmente a ibérica mais antiga, tão importante para nós - mas principalmente apto a expressar o que a Cultura brasileira tem de singular, de próprio e de não europeu.
Faixas:
00:18. 1. Lancinante (Antônio Madureira)
03:52. 2. Improviso (Antônio Madureira)
3. O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna* (Antônio Madureira)
07:08. a) Abertura
09:10. b) A preguiça
11:10. c) A troca dos bichos
12:45. d) Ironia ao rico
*Entremês popular de Ariano Suassuna, adaptado de folhetos da Literatura de Cordel e de uma peça nordestina para Mamulengo, assim como de um “romance“ medieval ibérico, ainda hoje cantado no Sertão.
14:46. 4. Aralume (Antônio Madureira)
18:48. 5. Reisado (Egildo Vieira)
22:26. 6. Guerreiro (Antônio Madureira)
27:24. 7. Ponteado (Antônio Madureira)
31:16. 8. Chamada e Marcha Caminheira (Egildo Vieira)
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Sou Crisóstomo Santos,
* Professor de Clarinete do IFPE;
* Clarinetista e Claronista da Banda Sinfônica do Recife, do Grupo SaGRAMA (Autor da trilha sonora do Filme — Auto da Compadecida), e dos Quartetos: SOPROS DE PE (Clarinetes) e MUCAMBO de Música Contemporânea.
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