I Encontro da Canção Portuguesa ‒ Lisboa, 29 de Março de 1974 ‒ Coliseu dos Recreios

(Antena 1 — Primeiro encontro da canção portuguesa. Realização de António Macedo e Viriato Teles. Produção de António Santos. | 30 Mar, 2014: ) A última grande manifestação cultural de massas do tempo da ditadura aconteceu em Lisboa, a 29 de Março de 1974. Na véspera, Marcello Caetano dirigira aos telespectadores mais uma (a última) das suas «Conversas em Família» [1]. À noite, o Coliseu dos Recreios abriu as portas para o primeiro e o mais histórico dos encontros ao vivo da música portuguesa. Organizado pela Casa da Imprensa, marcou de forma inequívoca o fim próximo do regime. José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, Fausto, José Jorge Letria, Carlos Paredes, Fernando Tordo, José Barata-Moura, Ary dos Santos e Vitorino são os nomes principais da ”festa”, autorizada depois de algumas diligências nada fáceis por parte da Casa da Imprensa. Com a lotação esgotada desde muitos dias antes, o Coliseu transforma-se num imenso coro de cinco mil vozes dispostas a cantar bem alto o outro lado da realidade permitida. Há agentes da PIDE por todo o lado, ninguém o ignora. O espectáculo tarda a começar porque Adriano não tinha enviado os textos ao “exame prévio” da Censura. A situação acabará por resolver-se graças a dois censores “casualmente” de serviço na plateia do Coliseu que, ali mesmo, decidem quais os temas que podem ou não ser ouvidos. Quando finalmente tem início o “desfile”, é a apoteose. Primeiro com alguns equívocos, como aconteceu durante a primeira parte da actuação de José Carlos Ary dos Santos, recebida com uma chuvada de apupos por parte do público. Mas a força da sua poesia impôs-se e quando debitou «SARL, SARL, a pança do patrão não lhe cabe na pele» já ninguém tinha dúvidas de que aquele homem era efectivamente dos nossos... Depois, foi o grande coro colectivo, a culminar com os cinco mil espectadores, de pé, a entoar os versos de «Grândola, Vila Morena», ironicamente a única canção de Zeca a passar integralmente as malhas da Censura. E é o seu grande impacto na noite de 29 de Março que irá determinar a sua escolha para senha do Movimento das Forças Armadas, na noite de 24 para 25 de Abril. ______________________ [1] «Conversas em Família» era a designação das intervenções televisivas que Marcello Caetano efectuava regularmente. Tratava-se de discursos previamente escritos, mas lidos como se fossem improvisos. Para esse efeito, a RTP comprou o seu primeiro teleponto. ______________________ Viriato Teles, As Voltas de um Andarilho – Fragmentos da vida e obra de José Afonso, 2.ª edição, Lisboa, Assírio & Alvim, 2009, . ____________________________________________________ Carta da Casa da Imprensa a contestar a intenção de se proibirem as actuações de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira: Relatório dos agentes fiscais da Censura (Direcção dos Serviços de Espectáculos): Uma noite cantada que fez história: Há 40 anos, em 29 de Março de 1974, um concerto premonitório, no Coliseu de Lisboa, terminou com a canção «Grândola» cantada em uníssono: Grândola, Vila Morena - o porquê da canção de Abril: ____________________________________________________ [
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